sexta-feira, 25 de maio de 2012

Economia Verde - Reflexos

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Reflexos da economia verde
Há contradição entre economia verde e desenvolvimento sustentável? Trata-se de iniciativa neoliberal para cooptar utopias planetárias? Há indícios para suspeição: empresas predatórias com matérias-primas, energia, água, emissões de carbono, mas que adotam medidas cosméticas, abatem emissões; pintam de verde a fachada do modelo predatório. Outra suspeição: a economia verde converteria em mercadoria água, saúde, a vida, as colocando no pregão da Bolsa, substituindo ação social, ciência, práticas ambientais por mecanismos de mercado
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Carlos Minc
economia verde constitui conjunto de medidas econômicas, financeiras, creditícias, tributárias, tecnológicas, sociais, regionais, que viabilizam o desenvolvimento sustentável, gerando empregos e inclusão com menos desperdício e emissões de carbono. Vejamos exemplos: 

- A energia eólica no Brasil era 0,2% da matriz energética. A Carta dos Ventos, de 2009, elencou 12 medidas para viabilizá-la. Retiramos o IPI de turbinas, torres e hélices; garantimos leilões anuais. Desde então, quintuplicaram os investimentos, o preço caiu 60% viabilizando esta fonte renovável. 

- A água era tida como infinita e gratuita, poluída e desperdiçada. Com a cobrança daTaxa de Recursos Hídricos e a destinação do recurso aos Comitês de Bacia, indústrias adotaram o reuso da água. Comitês aplicaram em saneamento e pagamento para agricultores plantarem matas ciliares, garantindo mais água. 

- A lei do ICMS Verde-RJ não aumentou imposto; distribuiu mais recursos aos municípios que implantaram parques, fecharam lixões, ampliaram coleta seletiva, trataram esgoto. Em três anos dobrou a área protegida dos municípios e eliminamos 70% dos lixões. 

- O Decreto de Compras e Construções Sustentáveis obriga órgãos públicos a adquirir equipamentos eficientes, materiais de construção recicláveis, captar água da chuva, usar asfalto-borracha, placas solares. Com escala, viabilizam-se alternativas. 

- Parques com pesquisa científica, festivais culturais e gastronômicos protegem a biodiversidade criando empregos verdes em pousadas, restaurantes, ecoturismo. 

- Há que estabelecer sistema de contabilidade verde que inclua a depreciação de florestas e solos, que mesure os tempos livres, a qualidade de vida, do ar. Destruição de espécies, engarrafamentos e internações hospitalares hoje aumentam o PIB. 

Os desafios ambientais e climáticos estão longe de ser equacionados às vésperas da Rio+20. A crise europeia revela o caos financeiro e desvia recursos das tecnologias limpas nos países em desenvolvimento. A economia verde não substitui mudanças de padrão de produção e consumo, mas direciona a economia real àsustentabilidade, ao combate às desigualdades sociais e regionais, ao desperdício e às emissões de carbono que aumentam a febre da Terra. Elegê-la como grande vilã é um equívoco. Considerá-la a salvação do planeta, outro. 

Leia também:
Para juntar economia e ética, sociedade e natureza
 
Em busca do capitalismo sustentável 

*Carlos Minc é secretário de Ambiente do Estado do Rio e foi ministro do Meio Ambiente (2008-2010) 
* Este artigo foi publicado na seção Opinião (página 7) do jornal O Globo, de 07/05/2012

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